Participo da exposição Diálogos Possíveis 3 . Acervo CCUFG. Abertura: dia 29/06, 20 horas, no Centro Cultural UFG, em Go iânia. A exposição...
Participo da exposição Diálogos Possíveis 3 . Acervo CCUFG.
Abertura: dia 29/06, 20 horas, no Centro Cultural UFG, em Goiânia.
Abertura: dia 29/06, 20 horas, no Centro Cultural UFG, em Goiânia.
A exposição Diálogos possíveis 3: acervo CCUFG foi concebida por Carlos Sena Passos como uma de suas últimas ações enquanto diretor e curador do acervo do CCUFG. Meses antes de seu falecimento (ocorrido em maio de 2015) ele havia estruturado esta curadoria que reedita o título de duas exposições realizadas na Galeria da FAV em 2002 e 2004, período em que dirigiu a instituição.
A ideia inicial desenvolvida por Sena para as montagens anteriores – Diálogos possíveis 1 e 2 – era descobrir pontos de contato e a partir deles estabelecer conversações entre as produções de artistas professores e estudantes da Faculdade de Artes Visuais da UFG. Assim as exposições estavam compromissadas com a reflexão sobre os processos de influência cultural, de estabelecimento de um sistema de referências, de abertura do campo de trocas e de contaminações entre docentes e discentes, ocorridos durante a experiência de formação dos artistas pela academia. As duas edições anteriores estabeleciam visões internalizadas do trabalho feito àquela época para atualizar os meios e as poéticas em curso nas produções de artistas da FAV.
Quando pensou em reeditar o título para esta exposição, Sena também pensou em dilatar a área de alcance para o estabelecimento de diálogos capazes de ecoar em territórios maiores e que não se limitassem somente à avaliação da produção acadêmica. Tendo por um lado selecionado algumas obras que já se encontravam no acervo (algumas inéditas e outras já apresentadas, umas provindas de doações de artistas, outras de premiações do Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste e de doações do 3C Centro de Criação Contemporânea), convidou artistas a fazerem suas doações ao CCUFG. Era sua preocupação a ampliação constante do acervo com atenção para diferentes manifestações da arte contemporânea realizadas em Goiás e no Brasil. Era sua prática cotidiana, como curador, planejar a aquisição de obras para tornar o acervo representativo de sua concepção de arte contemporânea e de mundo.
Apesar de uma parte do recorte de Carlos Sena ainda trazer seu procedimento curatorial de outrora, com obras de artistas professores da FAV convivendo com obras de ex-alunos que abriram caminhos próprios, nesta sua nova concepção a conversação se amplia com a participação de artistas locais e nacionais, jovens e consagrados e sem quaisquer vínculos com a instituição de ensino. É necessário pontuar que a montagem concebida pelo curador descarta quaisquer implicações institucional, geográfica ou geracional na articulação das obras e que elas estão dispostas no espaço da galeria conforme os diversos pontos dialógicos, independente de hierarquias e de categorias. Também é preciso dizer que apesar de algumas obras estarem posicionadas em torno de um ponto específico, isso não implica que ela seja pensada em outro lugar ou em diálogo com outras obras em outros pontos. Os diálogos podem ser distendidos.
A montagem da primeira sala da exposição entremeia trabalhos de pintura, desenho, gravura, escultura, objeto, instalação, fotografia e vídeo instalação, que conferem ritmos inesperados aos eixos de conversação e enriquecem e potencializam o processo dialógico. Na segunda sala da exposição, a fotografia está exibida de maneira ostensiva. Quase como um destaque na exposição esse conjunto reúne trabalhos de fotógrafos autorais e de artistas que se utilizam da fotografia para documentar e concluir trabalhos que se dão para além do suporte fotográfico. Vê-se a fotografia aplicada de diferentes maneiras para investigar questões poéticas que cercam vasto terreno da vida contemporânea, implicada em trabalhos que lidam com noções de performance, que reinterpretam aspectos da paisagem, que tratam da documentação antropológica ou do fotojornalismo, que investigam os subterrâneos da memória. Esta abundância de imagens fotográficas é reveladora da onipresença desta mídia em nosso tempo e de como ela é formadora do nosso olhar.
Na exposição estão montadas conversações possíveis, com a ressalva de que o espectador leitor pode criar imaginariamente suas próprias conversas.
Um ponto de diálogo está na reunião de obras de categorias totalmente distintas e que se encontram na reflexão ampliada sobre o uso do espaço na natureza arquitetônica, sobre sua estruturação e sobre as relações que se travam entre o dentro e o fora, o interior e o exterior, o acima e o baixo, o continente e o conteúdo seja da forma seja do plano seja do material. Juliano Moraes, Evandro Soares, Santhiago Selon, Helô Sanvoy, Fernando Velazquez e Carla Chaim.
A reflexão sobre os dispositivos e os circuitos de comunicação e de conhecimento perpassa um grupo de trabalhos de naturezas bastante distintas que engloba vídeo, recorte, desenho, vídeo instalação e livro de artista; são obras que possuem a propriedade de descontruir os sistemas e os códigos de funcionamento operacional dos próprios circuitos. João Angelini e André Valente, Helô Sanvoy, Fernando Velazquez, Ana Teixeira.
Há um agrupamento de trabalhos que promovem conversações sobre as relações travadas entre arte e antropologia e sobre as ligações entre arte e fotografia documental ou fotojornalismo. Miguel Simão, Rosa Berardo, Alexandre Sequeira, Paulo Rezende e Weimer Carvalho.
Outro grupo de diálogo se fundamenta no uso do próprio corpo do artista como suporte ou elemento desencadeador de trabalhos de arte; inclui obras que de alguma forma se relacionam com a prática da performance e que em sua maioria fazem uso da fotografia como meio documental de ações efêmeras. Paul Setúbal, Rava, Pazé, Dalton Paula, Yara Pina, Marcela Tiboni.
As investigações sobre a memória individual ou coletiva norteia um grupo de artistas que empregam diversas linguagens e materiais em obras que tecem fios entre o presente e o passado e que criam temporalidades cambiantes, revolvendo fantasmas da subjetividade. José Rufino, Luiz Mauro, Anahy Jorge, Selma Parreira, Carlos Sena, Anna Behatriz Azevedo e Ana Teixeira, Rodrigo Flávio.
Outro ponto de conversação tem a paisagem como assunto dominante; porém são obras que deslocam a maneira convencional de entender e de configurar a equação espaço-tempo para um campo mais experimental onde a deriva se torna método de pesquisa para estruturar leituras do território. Glayson Arcanjo, Caetano Dias, Paulo Rezende, Hortência Moreira, Júlia Kater, Selma Parreira, Rodrigo Flávio, Bicicleta Sem Freio.
Este texto foi produzido tendo por base o meu acompanhamento do processo de elaboração do projeto inicial de curadoria formatado por Carlos Sena, e os argumentos aqui utilizados foram buscados em algumas anotações e na memória das nossas conversações sobre a exposição.Divino SobralCurador assistenteGoiânia, junho de 2016.