Estamos revitalizando as fachadas. Desenhos em caderno. Para ver as páginas do caderno acesse: https://vimeo.com/14099026...
Estamos revitalizando as fachadas. Desenhos em caderno. Para ver as páginas do caderno acesse:
Ações (still de vídeo)
Para ver o vídeo acesse: https://vimeo.com/104343180
Link para vídeo: https://vimeo.com/104343181
Exposição realizada na residência Phosphorus (edital PROAC).
agosto 2014, Centro, SP.
Glayson Arcanjo veste roupa preta. Desde o primeiro dia da residência entra e sai silenciosamente, muitas vezes ao dia. Desce e sobe as escadas silenciosamente. Leva o tripé, a mochila com a câmera, traz consigo sacolinhas de entulho. Sacolas de entulho sempre são assunto aqui no Phosphorus.
Não há como ficar alheio à idéia de ruína, de abandono, de escombro. Estamos no coração esquecido da cidade de São Paulo. Há prédios abandonados por toda parte. Mas o que é pior, há pessoas abandonadas dormindo embaixo de espessos cobertores. Tropeçamos em corpos.
Era o primeiro dia da residência, viemos buscar a mala para levar ao Copan, onde ficaria hospedado. Surpreendentemente a gigantesca porta do prédio ao lado estava aberta e via-se montes monumentais de entulhos sendo recolhidos. Pronto. Disparou-se um gatiho.
O prédio estava ocupado com pedreiros responsáveis pela reforma. Por causa da copa a cidade virou terra de ninguém. Ele entrou, fez amizade com os pedreiros. Fotografou. Fez ações espontaneas que ficaram registradas em vídeo. Acabou a copa e o proprietário proibiu a entrada. Entrou num prédio, entrou noutro e noutro ainda. Seu trabalho já conversava com as ruínas.
Mas aqui a coisa se adensou.
Na frente do phosphorus todos os prédios (que estavam vazios desde que mudamos para cá há 3 anos) foram invadidos pelas ocupações. Movimento popular paulista. LPM, luta por moradia. Uma luta que não conhecemos nna pele. Uma luta de classe daqueles que, historicamente, não possuem os recursos/direitos mínimos de sobrevivência.
Tentou entrar nas ocupações mas os muros são rígidos. O medo não dá passagem aos estrangeiros. Como saída poética foi fotografando as fachadas, com carbono decalcou as camadas que lhe interessavam das casas pintadas e conservadas por fora, ruindo e ocupadas por dentro pela degradação social. Uma cidade de fachada.
“Fora isso tudo estava calado na casa” uma frase de Julio Cortázar foi pintada, letras brancas em fundo preto. A faixa seria instalada do lado de fora. Ficou dentro ocupando a grande parede do espaço expositivo. Há momentos em que a arte não tem força para competir com a vida.
Maria Montero.
Maria Montero é gestora do espaço independente Phosphorus, estuda História, Crítica e Curadoria na PUC-SP, atua como curadora independente e produtora executiva especializada em exposições, além de colaborar com a Galeria Jaqueline Martins em Feiras de Arte Internacionais.
(Texto extraído do catálogo do projeto Residência Phosphorus, Edital Proac 24/2013. Agosto 2014.)